Nos trabalhos do arquiteto Carlos Navero, que faz a sua segunda participação na CASACOR São Paulo, um detalhe não é meramente um detalhe. Um exemplo são as almofadas feitas com revestimentos de palha trazidos da África do Sul, que nortearam a paleta cromática sóbria, mas ao mesmo tempo quente e sofisticada. Ele usou algo mais convencional no piso, como as pastilhas de porcelana hexagonais, apostou na madeira com acabamento canela nas paredes e no forro há um papel de parede que revela uma leve textura de palha.
Com 35 m², linhas retas e uma iluminação bem intimista, o Hall do Colecionador, assim como todos os projetos de Carlos Navero, apresenta obras de arte e objetos assinados por grandes nomes, como o vaso sobre a mesa de centro criado pelo italiano Gaetano Pesce para a Fish Design, os móveis brasileiros da Full House, obras de Artur Lescher, Lenora de Barros, Yutaka Toyota, Edgard de Souza, Nazareth Pacheco, Sonia Menna Barreto. Tudo devidamente emoldurado pelas pastilhas de porcelana, que resgatam um pouco da arquitetura modernista, e pela força da madeira, material muito presente nos projetos do arquiteto.
E por falar em madeira, com seu poder de acolher, abraçar e aconchegar, o tom escolhido por Carlos foi o canela, material que reveste com elegância as paredes, transformadas em generosos painéis, e compõe a estante de livros, resultado da mistura de um grande nicho de 180 x 180 cm com quatro prateleiras que parecem flutuar, já que o sistema de fixação é oculto. Segundo ele, ela acaba 60 cm antes de chegar ao piso de pastilhas cinza e entre os dois materiais criamos uma espécie de rodapé de 15 cm. Na outra ponta do Hall do Colecionador, se destacam as arandelas de vidro, arrematadas num Leilão e provenientes da casa do ex-dono do Banco Santos.
Sobre o tema da mostra em 2023, Corpo & Morada, Carlos, que já foi sócio de uma galeria em Curitiba (PR) e trabalhou em galerias de São Paulo, garante: “Sempre me envolvi com a arte, então a minha leitura sobre o assunto se reflete naquilo que me cerca, que me faz bem, como a arte, as lembranças e memórias afetivas, tudo muito presente no meu estilo de vida e dia a dia”.
Após a passagem pelo hall, chegamos aos degraus que levam até o pavimento inferior do Conjunto Nacional, dando continuidade à mostra com 73 ambientes. Carlos transformou a escada numa espécie de túnel, mais escuro e intimista, que apresenta a uniformidade do tecido nas paredes, do carpete preto e dos cliques do fotógrafo francês, radicado no Brasil, Jean Manzon (1915-1990), que reúne mulheres fotografadas durante sua trajetória, sempre em preto e branco. Os tecidos com impressão digital revelam as digitais dos dedos, fazendo referência ao tema da CASACOR São Paulo 2023, Corpo & Morada.
Fotos: Mariana Orsi
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